23 de fev. de 2012

Preço de acesso a pesquisas impede inovação

Fonte original: Folha de São Paulo.
Fonte: JC e-mail 4400. Data: 17/02/2012.
Organizador de boicote à maior editora de revistas científicas critica modelo de publicação.
Um abaixo-assinado que critica as práticas de mercado da maior editora científica do mundo, a Elsevier, já tem mais de 6.200 signatários, a maioria pesquisadores de instituições públicas. O organizador do boicote contra a empresa, porém, está na iniciativa privada.
Tyler Neylon diz que os altos custos de assinaturas de periódicos e o policiamento contra a livre circulação de artigos na internet prejudica as pequenas companhias que contribuem para a ciência e para a inovação. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, Neylon explica o que o motivou a começar o movimento.
Folha - O sr. está fora do meio acadêmico. O que o motivou a propor um boicote à Elsevier?
Tyler Neylon - Sou cofundador de uma empresa pequena e gosto de fazer pesquisa, mas não tenho como arcar com esses preços. Se eu quiser escrever um artigo sério, com cem citações, e o preço médio de periódicos científicos continuar em US$ 40, faça as contas: eu teria de pagar US$ 4.000 para submeter um único artigo. Se eu quiser assinar um periódico, estão brigando pelo direito de abrir o acesso ao resultado de suas pesquisas. E esse é mesmo um problema importante, mas existem outros atrapalhando a pesquisa na iniciativa privada.
Como vocês esperam que a Elsevier reaja ao boicote?
A maior parte dos pesquisadores apenas quer abandonar completamente a publicação lucrativa e mudar para o acesso aberto, mas isso não é algo em que a Elsevier os acompanharia. Uma coisa menos drástica que a editora poderia fazer é dar apoio a um projeto de lei de acesso público de pesquisa, que foi lançado há uma semana no Congresso dos EUA. Hoje eles apóiam outro projeto de lei, cujo objetivo é praticamente o oposto.
Vocês acham que vão afetar o prestígio de periódicos da Elsevier com o boicote?
Pelo menos três ganhadores da Medalha Fields - o prêmio para matemáticos que tem o mesmo peso de um Nobel - já prometeram nunca mais publicar em periódicos da Elsevier. Timothy Gowers, Terence Tao e Wendelin Werner assinaram a petição. Em um dos periódicos da editora, um matemático anunciou que vai abandonar o conselho editorial. Então, acho que já estamos tendo algum impacto.
O abaixo-assinado não está tentando crucificar a Elsevier por uma prática que há em todo o setor de publicação?
O fato de as editoras precisarem de dinheiro para organizar a revisão de artigos é verdade até certo ponto. Alguns periódicos têm editores e equipes pagos pela editora, mas na maioria das publicações não é assim.
Se tem tanta gente trabalhando de graça, por que não fazer isso dentro de uma plataforma em que o acesso aos artigos seja gratuito?
A razão pela qual nos concentramos na Elsevier e não na Springer ou na Wiley-Blackwell é que existe um consenso maior entre os pesquisadores que são contra as práticas deles. Muitos pesquisadores evitam esse tipo de confronto. Existe um tabu, um medo de se voltar contra publicações que têm prestígio. Se nós tivéssemos decidido incluir outras editoras, não sei se tantas pessoas teriam assinado a petição.
Outro lado - Em um comunicado público, ao preço médio é US$ 22 mil. Mesmo eu tendo um doutorado hoje, fazer pesquisa é algo fora do meu alcance.
Você esperava que o abaixo-assinado ganhasse tanta força nas instituições públicas e universidades?
Bom, as pessoas que realmente têm influência são os professores universitários e eles estão mais a par de problemas como o dos NIH [Institutos Nacionais de Saúde dos EUA], que Elsevier diz que fixa preços razoáveis dentro do mercado de publicações científicas e que o custo de acesso está caindo. Segundo a empresa, o texto do abaixo assinado "The Cost of Knowledge" tem "distorções". "Em média, cobramos um quinto daquilo que cobrávamos há dez anos pelo download de um artigo", diz o documento, colocado à disposição no site da empresa.
"Ao contrário do que foi dito, bibliotecas nunca são forçadas a comprar 'pacotes' de assinaturas. (...) A maioria delas opta por escolher coleções grandes porque assim recebem descontos." A editora também menciona possuir oito periódicos de acesso aberto e afirma que em 1.100 periódicos pagos os autores têm a opção de financiar o download gratuito de seus artigos publicados. "Nenhum modelo de publicação único vai ser a solução para todos os tipos de periódico", diz o comunicado.
A empresa também afirma ser favorável à divulgação gratuita do resultado de pesquisas financiadas com dinheiro público, desde que isso seja feito sem "sabotar a sustentabilidade do sistema de publicação com revisão por pares".

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