16 de ago. de 2012

Bibliotecas de Belo Horizonte são referências nacionais


Fonte: Portal Uai. Data: 15/08/2012.

Autor: Sergio Rodrigo Reis.


Seja pela dedicação de leitores e colecionadores ou pelo investimento de instituições públicas e privadas, Minas Gerais ganhou ao longo das décadas verdadeiras ilhas de excelência dedicadas ao conhecimento. Reunidos em bibliotecas de referência, abertas gratuitamente ao público, estão milhares de livros, revistas, periódicos e documentos, representativos de assuntos específicos do saber humano, que vão de teologia à filosofia, da história à política, passando ainda por temas como literatura mineira, economia, direito, saúde e arte. Abertos a pesquisadores de todo país, esses lugares reúnem ainda dezenas de obras raras, algumas delas únicas no país.

A Biblioteca Padre Vaz, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), é bom exemplo. Com acervo de cerca de 200 mil exemplares, sendo que só de livros possui 98 mil, o espaço, no Bairro Planalto, impressiona. Os volumes – à exceção de livros raros cujo acesso exige agendamento – podem ser consultados livremente. “O acervo é tão especial pelo volume e qualidade das obras. Há desde livros clássicos até contemporâneos, o que o torna bastante útil para pesquisadores. Somos referência latino-americana em teologia e filosofia”, afirma o diretor, padre Elton Ribeiro.

Por uma feliz conjunção, a biblioteca veio para Minas Gerais. Iniciada em Nova Friburgo (RJ), em 1923, pelo padre Leonel Franca, fundador da Universidade Católica do Rio de Janeiro, então professor de história da filosofia, a biblioteca começou pelas edições críticas dos grandes filósofos. Em 1965, foi transferida para São Paulo, onde permaneceu por 10 anos, sendo ampliada com aquisições e doações de volumes de bibliotecas da Companhia de Jesus da Região Sudeste. Em 1975, retornou ao Rio e, finalmente, em 1981, foi transferida para BH, onde, por dedicação do professor padre Henrique Cláudio de Lima Vaz, especializou-se ainda mais, com aquisições importantes na área de filosofia. “Os jesuítas no Brasil sempre tiveram formação específica em filosofia e teologia. Quando retornaram ao país, em 1850, para formar novos padres, fundaram bibliotecas com livros vindos da Europa. Cerca de 65% do nosso material está em língua estrangeira, como francês, italiano, alemão e inglês”, explica o padre Elton Ribeiro.

Pesquisa Foi também por paixão pela literatura segmentada que surgiu o Instituto Cultural Amilcar Martins (Icam). O espaço na capital, no Bairro Funcionários, tem como principal finalidade o estudo, a preservação e a divulgação da história e da cultura de Minas. A iniciativa começou por acaso. “Estudante nos anos 1970, iniciei uma coleção pessoal voltada para a história do estado. Primeiro comprei os livros mais comuns, ao longo dos anos o acervo foi crescendo e ficando mais sofisticado, com aquisições de obras raras e edições mais difíceis”, lembra o fundador, Amilcar Martins. Quando atingiu 5 mil títulos surgiu a ideia de tornar o conjunto de acesso irrestrito.

“É uma biblioteca de pesquisa, mas também de preservação de acervo”, diz ele, orgulhoso dos cerca de 11 mil livros adquiridos até então, parte deles bastante raros, como o Triunfo eucarístico, de 1734, sobre a inauguração da Igreja do Pilar, em Ouro Preto; ou o livro Prodigiosa lagoa descoberta nas Minas de Congonhas do Sabará, contendo relatos de casos de curas dos que se banhavam na Lagoa Santa, em 1749. “A maior dificuldade tem sido financiar os projetos, pois como somos uma ONG, vivemos das leis de incentivo. É uma luta permanente. Invisto em obras extremamente raras, são livros do século 18, vários deles já não encontro mais no Brasil. Tenho comprado em Portugal, Nova York, Canadá. Não ganho um centavo, mas é prazeroso”, conta Amilcar Martins, que, além de dirigir o Icam, é professor universitário.

A maioria dessas bibliotecas, devido às peculiaridades dos acervos, não recebem habitualmente grande público. “Os consulentes, em geral, são pesquisadores, professores ou estudantes de várias partes do Brasil. Já tivemos até do exterior”, conta Amilcar, que, nos últimos anos, tem desenvolvido ações de difusão, como criação de uma Coleção Mineiriana, bem como publicação de novos estudos mineiros e reedição de obras raras. A Biblioteca Padre Vaz vive situação parecida. O número de usuários não é grande em comparação com as outras dedicadas a assuntos mais amplos. Mesmo assim, tem seu público. “Recebemos um bom número de estudantes, inclusive de outros estados”, diz a coordenadora Zita Mendes Rocha.

Iconografia Dedicada exclusivamente às artes plásticas e aberta à comunidade, a Biblioteca e Centro de Documentação e Pesquisa do Museu de Arte da Pampulha (MAP) se tornou referência na área. A instituição, que funciona dentro do museu, possui acervo de 5 mil publicações, materiais bibliográficos e audiovisuais especializados em arte moderna e contemporânea, sobretudo brasileira. É rica ainda em documentos textuais e iconográficos registrando a história do MAP, incluindo as exposições e salões de arte. “É especial porque tem um acervo rico, dedicado às artes visuais, que poucas bibliotecas em BH possuem, e aberto ao público”, explica a coordenadora Celeste Martins Fontana. Segundo ela, como a biblioteca é especializada numa área sem tanta difusão no Brasil, a frequência não é grande. “Muitos não acessam porque não sabem da existência. Poderia ter mais demanda”, avalia.

PARA CONHECER
Biblioteca Padre Vaz (Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia)

Acervo de 200 mil exemplares de livros de teologia e filosofia. Aberta ao público de segunda a sexta-feira, das 7h45 às 12h e das 13h às 17h45, na Av. Dr. Cristiano Guimarães, 2.127, Planalto. Informações: (31) 3115-7016.

Instituto Cultural Amilcar Martins

Coleção Mineiriana de 11 mil obras, inclusive títulos raros da história de Minas. Há ainda acervo de literatura do século 18, como a primeira edição do Vila Rica, de Cláudio Manoel da Costa, edições de Marília de Dirceu, inclusive a de 1810, considerada a mais rara, e ainda exemplares da literatura moderna autografados. Fica na Rua Ceará, 2.037, Funcionários. Aberta de segunda a sexta, das 9h às 18h. Informações: (31) 3274-6666.

Biblioteca e Centro de Documentação e Referência do MAP

Cerca de 5 mil títulos dedicados à arte moderna e contemporânea. Visitação: segunda a sexta, das 9h às 17h, na Av. Otacílio Negrão de Lima, 16.585, Pampulha. Informações: (31) 3277-7956.

Bibliotecas da UFMG

A instituição possui 26 bibliotecas setoriais. Entre as coleções especiais estão a Memória Intelectual da UFMG, Obras Raras, coleções pessoais (Henriqueta Lisboa, Murilo Rubião, Oswaldo França Júnior, Abgar Renault, Curt Lange) e Mineiriana.
Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha). Informações e horários de funcionamento de cada unidade: (31) 3409-4611.

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